Olá minha gente,
Em Marrazes, Leiria, encontra-se
uma casa que no último fim-de-semana mudou a vida da minha
Barrigana, numa das
mais assombrosas refeições que tive nos últimos tempos.
Mas primeiro é fundamental
contar-vos, resumidamente, a história desta casa. Há mais de 50 anos atrás Ti
António (conhecido lá na terra como “Repolho”) e a sua esposa, a Ti Rosária,
tinham a “venda” da aldeia. Uma espécie de mercearia, taberna e talho tudo ao
mesmo tempo.
As duas coisas mais apreciadas na
“venda” eram a “pinga” (vinho) e o porco (que era morto semanalmente e
desmanchado para se vender na venda). Ora como todos nós sabemos naquela altura
não haviam congeladores e arcas de congelação, logo a melhor maneira de se
preservar a carne na altura era colocando-a numa salgadeira. Contudo apenas
cabiam lá os cortes mais apreciados (presunto, entremeada, carne magra…), o que
fazia com que a cabeça do porco tivesse que ficar de fora. Perante isto Ti António
pedia à sua esposa para fazer uma boa feijoada com a cabeça do porco, que como
já se percebeu era uma maravilha para os seus conterrâneos.
Naquela altura era habitual
ouvir-se: “Olha! Vou ao ‘Repolho’ comer uma Tromba Rija” e assim ficou a ser conhecido
até aos dias de hoje.
Mas este, meus amigos, é apenas o
início desta história. O “Tromba Rija” é uma casa tradicional e acolhedora que
num dia de chuva e frio nos aquece e reconforta dos pés à cabeça. O atendimento
é de uma grande simpatia e familiaridade, é quase como se tivéssemos naquelas
almoçaradas com toda a família em casa dos nossos pais ou avós.
Mas não pensem que este
tratamento e comida atraem somente portugueses, este sítio é visitado
frequentemente por pessoas de todo o mundo, do Brasil (que são muito
apreciadores) ao Japão, da Austrália aos EUA. Como é que eu sei disto? Está
tudo escrito nas paredes, literalmente. Cada visitante recebe uma folha para
poder deixar a sua opinião sobre o “Tromba Rija” e muitas delas deixam, notas
dos seus países e até cartões de empresas. No fundo querem melhor papel de
parede do que um, que para além de personalizado, feito à mão e onde todos escrevem
maravilhas do restaurante?
Para o ambiente ficam os cinco
Barriganas.
Depois vem a comida. Meus amigos,
a comida do “Tromba Rija” não é para meninos, é para rijos, não pensem que vão
comer três folhinhas, vão comer bem, beber bem e repetir a dose. É para comer
como se não houvesse amanhã, a minha estratégia foi tomar um pequeno-almoço
muito leve, porque o almoço foi de comer até mais não. O ex-líbris é o “Menu de
Degustação ‘Saborear Portugal’” que incluí, nada mais, nada menos do que cerca
de 50 petiscos made in Portugal, de entre eles “peixinhos da horta”, “moelas”,
“pastéis de bacalhau”, “salada de ovas”, “migas de tomate”, a lista é
infindável. De seguida os “pratos principais” onde o bacalhau é sempre habitual
“com natas”, “com migas de grelos”, “Bifes do cachaço de porco preto”, “Bife de
pimenta”, todos estes pratos perfeitamente confeccionados e empratados.
Quando pensamos que estamos quase
no fim, ainda vamos a meio. Depois disto vem “Mesa de queijos”, até parece que
estamos num casamento, mas não, ainda é melhor. São cerca de 15 a 20 dos
queijos de Portugal (e não só) acompanhados por tostas, bolachas e doces.
Continuando, passamos à mesa dos
doces. Vários doces, uns regionais e outros mais habituais, de entre eles,
“brisas do Lis”, “formigos”, “Leite-creme” (que pode ser queimado na hora, caso
queiramos), “Pudim abade de priscos”, “Papos de anjo”, “Mousse de Chocolate”,
“Farófias” e vou parar por aqui antes que me desfaça em saliva.
Para terminar (finalmente!) vem
para a mesa uma travessa com fruta variada, um cesto com vários frutos secos e
alguns digestivos, “amarguinha” parcialmente gelada e com algumas gotas de
limão, “aguardente velha” caseira e “vinho do porto”.
Como não poderia deixar de ser
ficam os cinco Barriganas para a ementa.
O preço é muitíssimo simpático,
são 30€ por pessoa e inclui tudo o que mencionei anteriormente e também o vinho
da casa. Tendo em conta que comemos e bebemos aquilo que nos der na “real
gana”, que toda a comida é muito saborosa e feita com produtos de qualidade, é
um preço mais do que justo.
Para o preço ficam os cinco
Barriganas.
Este é daqueles restaurantes que
merecem ser visitados pelo menos uma vez na vida. Uma experiência gastronómica
que nos marca.
Termino deixando um bem-haja à D.
Elizabete (filha dos proprietários originais) e seu esposo por terem preservado
a casa, a comida e o espírito do Ti António e da Ti Rosária e por terem
desenvolvido, na minha opinião, um monumento à culinária e restauração
nacionais.
Fotos e design por Shot Frame – www.shotframe.pt / facebook.com/shotframept
Só me resta assinar por baixo, é a segunda vez que lá vou e se tiver oportunidade não há de ser a última. Beijinhos Linda
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