quarta-feira, 5 de março de 2014

Tromba Rija


Olá minha gente,

Em Marrazes, Leiria, encontra-se uma casa que no último fim-de-semana mudou a vida da minha 
Barrigana, numa das mais assombrosas refeições que tive nos últimos tempos.
Mas primeiro é fundamental contar-vos, resumidamente, a história desta casa. Há mais de 50 anos atrás Ti António (conhecido lá na terra como “Repolho”) e a sua esposa, a Ti Rosária, tinham a “venda” da aldeia. Uma espécie de mercearia, taberna e talho tudo ao mesmo tempo.

As duas coisas mais apreciadas na “venda” eram a “pinga” (vinho) e o porco (que era morto semanalmente e desmanchado para se vender na venda). Ora como todos nós sabemos naquela altura não haviam congeladores e arcas de congelação, logo a melhor maneira de se preservar a carne na altura era colocando-a numa salgadeira. Contudo apenas cabiam lá os cortes mais apreciados (presunto, entremeada, carne magra…), o que fazia com que a cabeça do porco tivesse que ficar de fora. Perante isto Ti António pedia à sua esposa para fazer uma boa feijoada com a cabeça do porco, que como já se percebeu era uma maravilha para os seus conterrâneos.   

Naquela altura era habitual ouvir-se: “Olha! Vou ao ‘Repolho’ comer uma Tromba Rija” e assim ficou a ser conhecido até aos dias de hoje.

Mas este, meus amigos, é apenas o início desta história. O “Tromba Rija” é uma casa tradicional e acolhedora que num dia de chuva e frio nos aquece e reconforta dos pés à cabeça. O atendimento é de uma grande simpatia e familiaridade, é quase como se tivéssemos naquelas almoçaradas com toda a família em casa dos nossos pais ou avós.

Mas não pensem que este tratamento e comida atraem somente portugueses, este sítio é visitado frequentemente por pessoas de todo o mundo, do Brasil (que são muito apreciadores) ao Japão, da Austrália aos EUA. Como é que eu sei disto? Está tudo escrito nas paredes, literalmente. Cada visitante recebe uma folha para poder deixar a sua opinião sobre o “Tromba Rija” e muitas delas deixam, notas dos seus países e até cartões de empresas. No fundo querem melhor papel de parede do que um, que para além de personalizado, feito à mão e onde todos escrevem maravilhas do restaurante?

Para o ambiente ficam os cinco Barriganas.

Depois vem a comida. Meus amigos, a comida do “Tromba Rija” não é para meninos, é para rijos, não pensem que vão comer três folhinhas, vão comer bem, beber bem e repetir a dose. É para comer como se não houvesse amanhã, a minha estratégia foi tomar um pequeno-almoço muito leve, porque o almoço foi de comer até mais não. O ex-líbris é o “Menu de Degustação ‘Saborear Portugal’” que incluí, nada mais, nada menos do que cerca de 50 petiscos made in Portugal, de entre eles “peixinhos da horta”, “moelas”, “pastéis de bacalhau”, “salada de ovas”, “migas de tomate”, a lista é infindável. De seguida os “pratos principais” onde o bacalhau é sempre habitual “com natas”, “com migas de grelos”, “Bifes do cachaço de porco preto”, “Bife de pimenta”, todos estes pratos perfeitamente confeccionados e empratados.

Quando pensamos que estamos quase no fim, ainda vamos a meio. Depois disto vem “Mesa de queijos”, até parece que estamos num casamento, mas não, ainda é melhor. São cerca de 15 a 20 dos queijos de Portugal (e não só) acompanhados por tostas, bolachas e doces.

Continuando, passamos à mesa dos doces. Vários doces, uns regionais e outros mais habituais, de entre eles, “brisas do Lis”, “formigos”, “Leite-creme” (que pode ser queimado na hora, caso queiramos), “Pudim abade de priscos”, “Papos de anjo”, “Mousse de Chocolate”, “Farófias” e vou parar por aqui antes que me desfaça em saliva.

Para terminar (finalmente!) vem para a mesa uma travessa com fruta variada, um cesto com vários frutos secos e alguns digestivos, “amarguinha” parcialmente gelada e com algumas gotas de limão, “aguardente velha” caseira e “vinho do porto”.

Como não poderia deixar de ser ficam os cinco Barriganas para a ementa.

O preço é muitíssimo simpático, são 30€ por pessoa e inclui tudo o que mencionei anteriormente e também o vinho da casa. Tendo em conta que comemos e bebemos aquilo que nos der na “real gana”, que toda a comida é muito saborosa e feita com produtos de qualidade, é um preço mais do que justo.

Para o preço ficam os cinco Barriganas.

Este é daqueles restaurantes que merecem ser visitados pelo menos uma vez na vida. Uma experiência gastronómica que nos marca.   

Termino deixando um bem-haja à D. Elizabete (filha dos proprietários originais) e seu esposo por terem preservado a casa, a comida e o espírito do Ti António e da Ti Rosária e por terem desenvolvido, na minha opinião, um monumento à culinária e restauração nacionais.    


Fotos e design por Shot Frame – www.shotframe.pt / facebook.com/shotframept

1 comentário:

  1. Só me resta assinar por baixo, é a segunda vez que lá vou e se tiver oportunidade não há de ser a última. Beijinhos Linda

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